Por que radicalizar?
- Danilo Zajac
- 27 de out. de 2020
- 2 min de leitura
Na medida, porém, em que, sectariamente, assumam posições fechadas, "irracionais", rechaçarão o diálogo que pretendemos estabelecer (Paulo Freire - Pedagogia do oprimido)

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Radicalidade é uma palavra controversa. Há quem diga que radicalizamos quando nos tornamos pessoas intransigentes, impossíveis de construir um diálogo saudável e construtivo. De acordo com o dicionário Oxford, radicalizar é "tornar-se, drástico, inflexível; adotar postura, ponto de vista etc. extremado em relação a algo".
A definição de Paulo Freire, visão da qual compartilho, atribui outro sentido ao homem radical. A radicalidade freiriana parte de uma visão oposta ao extremismo, ao qual deve-se atribuir o título de sectário. Os sectários são aqueles que assumem posições fechadas e irracionais, sem aberturas para um diálogo.
"A radicalização, pelo contrário, é sempre criadora, pela criticidade que a alimenta. (...) Libertadora porque, implicando o enraizamento que os homens fazem na opção que fizeram, os engaja mais no esforço de transformação da realidade concreta, objetiva." (FREIRE, 2016, p. 56)
Sectários podem ser tanto aqueles que querem frear o processo de emancipação e mudança a partir de uma domesticação dos homens, quanto aqueles que se nutrem de perspectivas fatalistas e de futuro preestabelecido. Propostas de transformação radicais não são receitas de bolo, portanto, também os segundos são sectários, porque vivem em eterna contradição com as lutas do nosso tempo. Acreditar que estamos no "fundo do poço", ou ainda que "nada de nossa história é aproveitável", é uma forma de sectarismo, assim como o sectarismo mais reacionário, que deseja uma volta a um passado de falsa ordem, paz e tranquilidade.
Daí a importância de conhecer o mundo e a sua história. Reflexões sobre o mundo sempre são carregadas de parcialidade, porque estão atreladas a representações de classe. Diante do sectarismo, que na verdade é a face mais comum da humanidade de nosso tempo, apagam-se evidências e se distorcem fatos. A radicalidade, enquanto exercício fundamental da emancipação, é uma ferramenta essencial na desmistificação de visões distorcidas e subjetivas da realidade e das provas materiais.
Por fim, ser radical não é advogar pela imparcialidade. Lutar em favor dos oprimidos do mundo, dos marginalizados, dos excluídos, como diz Freire, é tomar lado. A luta pela emancipação é, sobremaneira, o lado da justiça social. Olhar a história com esse olhar nos permite entender acertos e erros desta trincheira, a fim de que possamos girar o motor da história em direção da plena civilidade e do respeito por todos os homens e mulheres deste mundo.
É isso que se propõe este blog. Estarei por aqui escrevendo, sempre que me der vontade em uma periodicidade indefinida, sobre política. Não haverá espaço para o sectarismo, portanto, tudo que eu escrever por aqui terá a Ciência e os fatos como provocadores das discussões. Emoções e apegos sem materialidade científica não terão espaço por aqui. Algumas coisas que pretendo escrever podem desagradar alguns. Espero as críticas, faz parte do desenvolvimento dos argumentos, mas também espero que elas sejam construídas com a mesma dedicação daquelas que serão expostas por mim nestes textos.
E você, diante destas palavras, se propõe a ser um sectário ou um radical?
Avante!
Bibliografia:
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.





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