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Alguns pitacos sobre primeiro debate entre os presidenciáveis a partir de uma análise textual

  • Foto do escritor: Danilo Zajac
    Danilo Zajac
  • 16 de set. de 2022
  • 13 min de leitura

Já ouviu falar de métodos de análise textual? Assista o debate, caso não tenha assistido, e corre aqui para ver uma coisa.


Unidas, a TV Cultura, Band, UOL e Folha de S.Paulo se uniram e formaram um pool para realizar o primeiro debate presidencial das Eleições 2022, em um domingo, 28/08. O evento foi realizado nos estudos da Band e colocou frente a frente os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (PMDB), Felipe D’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil). Em que pese o fato de Sofia Manzano (PCB), Léo Péricles (UP) e Vera Lúcia (PSTU) terem sido excluídos do debate com a justificativa de não estarem bem posicionados nas pesquisas eleitorais, dando ao debate um perfil de 6 tons de neoliberalismo, as falas dos presentes revelam muito mais do que nossas mentes são capazes de processar.

Devido à dinâmica do debate, alguns candidatos falaram mais que outros; da mesma forma, alguns candidatos falaram mais de alguns temas específicos que outros. Ainda assim, é possível extrair alguns dados interessantes que envolvem o encadeamento de palavras dos participantes e quais sentidos são construídos com estas palavras. Não é intuito deste texto o de verificar ou checar se as informações que os candidatos trouxeram são verídicas, mas sim o de compreender como as falas destes candidatos se apresentam em termos de significado. Quais conceitos eles trouxeram e como desenvolveram suas ideias?

As transcrições do debate foram obtidas no site Aos Fatos [1] e foram analisadas com o Iramuteq, software de código aberto utilizado em estatística textual. Inicialmente, construí um corpus textual (um texto no aplicativo bloco de notas), removi as intervenções e perguntas dos mediadores e jornalistas e criei tags que me permitissem identificar dentro do software quais parágrafos se referem a cada candidato. Para facilitar a interpretação dos dados, foram utilizados apenas os substantivos.

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Figura 1 – Nuvem de palavras com os termos que mais apareceram nas falas dos candidatos em ordem de tamanho.


A primeira e mais simples das análises, a contagem de palavras (análise lexicométrica – Figura 1), revela que Brasil, Mulher, País, Gente e Governo foram as palavras mais citadas pelos candidatos. Palavras comuns para um debate presidencial, exceto a palavra mulher. Bastou acompanhar o debate para saber que este tema foi bastante discutido [2]. Fez-se necessário então adotar um outro caminho, a partir de uma análise geral do conteúdo das falas utilizando a Classificação Hierárquica Descendente (CHD), incluída também no Iramuteq. Em termos simples, o método permite classificar segmentos de texto em função de seus respectivos vocabulários. A partir de matrizes que cruzam segmentos de textos e palavras (em repetidos testes estatísticos), o texto é dividido em um certo número de classes. Palavras próximas repetidas vezes possuem um significado maior do que palavras que não se aproximam tanto nas falas dos candidatos. Estes significados, por fim, só podem ser atribuídos a partir da leitura do texto classificado, não substituindo então o meu trabalho de interpretação.

A análise CHD retornou quatro classes de conteúdos, representados na Figura 2. A Classe 1 (vermelha) agrupa aos temas mais candentes de nosso momento histórico e suas propostas: economia, emprego, investimento público, pobreza, fome, auxílios, crescimento, entre outros. Cerca de 35% dos trechos classificados do debate estão inseridos nesta Classe.

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Figura 2 – Diagrama das palavras que caracterizam os segmentos de texto classificados no corpus, mostrando apenas substantivos. O tamanho da fonte indica o grau de associação da palavra à sua respectiva classe.


O senhor disse puro e simplesmente que o Brasil não tem gente com fome e que pessoas não procuram pedir comida porque o Brasil não tem propriamente fome. As pessoas até não comem bem, ouvi o senhor falando, mas que não tem fome no Brasil. (...) O senhor, qualquer pessoa que conhece o Brasil como eu conheço, que anda nas ruas, vê as pessoas com placa pedindo comida, né? Qualquer pessoa que não tenha trocado o coração por uma pedra sabe que a fome está no lado de muitos milhões de brasileiros. (Exemplo de trecho classificados como Classe 1, quando Ciro Gomes pergunta a Jair Bolsonaro).

Por óbvio, se podemos considerar Lula e Ciro Gomes como representantes da esquerda (sic) neste debate, suas falas deveriam ter muita aderência a esta classe, porém, a análise apontou o candidato do Partido Novo, Felipe D’Ávila, como o representante deste conjunto de textos (quase a totalidade de suas falas foram classificadas como desta classe). Não é de hoje que um representante máximo da burguesia e dos bancos aborda pautas dos movimentos populares. Os liberais se aproximam dos movimentos populares através de seus aparelhos privados de hegemonia para garantir que estes setores não se percebam dentro de um movimento de ampliação da exploração em curso. Com a promessa de ascensão individual e reconhecimento as minorias, os liberais colocam os trabalhadores contra suas próprias reivindicações históricas, descolando-os de qualquer perspectiva anticapitalista, utilizando estas próprias reivindicações de forma distorcida propositalmente.


Esta espécie de cooptação feita por D’Ávila é percebida através de uma leitura atenta dos trechos classificados como Classe 1. A perspectiva individual e avessa às políticas públicas é percebida, porém imersa nas promessas de melhoria dos direitos sociais.

O Brasil não cresce, não aumenta a geração de emprego e renda. E nós temos de conciliar sim com o gasto público, mas pra fazer isso é preciso cortar desperdício da máquina pública. (…) E nós estamos cansados desse Estado caro e ineficiente que atrapalha a vida de todo mundo que trabalha, que rala todo dia de manhã pra conseguir o seu dinheiro. Nós somos o país entre os quinze mais que cobram imposto.
E não é isso, nós temos que olhar o mercado com juízo. O mercado vai ajudar o Brasil a resolver a questão do meio ambiente. Vai trazer investimento privado. Nós temos que acabar com essa dicotomia que preservar o Brasil é manter o atraso. Não, preservar significa exatamente o oposto. Atrair investimento, renda e emprego com dinheiro privado. (Trechos das falas de Felipe D’Ávila).

Outra análise possível dentro do Iramuteq é a Análise de Similitude. Ela gera grafos que conectam palavras que coocorrem, isto é, palavras que estão sempre próximas. Utilizei-a para compreender melhor as passagens de D’Ávila (Figura 3).

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Figura 3 - Análise de similitude das falas de Felipe D’Ávila. As linhas mais grossas indicam uma maior frequência de coocorrências.

Os principais nós (palavras centrais) do grafo da Figura 3 são Brasil e Dinheiro. É curioso – não surpreendente – como esta análise mostra mais centralidade da palavra Dinheiro do que, por exemplo, da palavra Educação. Para o candidato do Partido Novo, por exemplo, os problemas da educação não envolvem dinheiro, mas sim uma gestão de qualidade. Sobre isso, vale conferir estes dois textos que escrevi aqui e aqui.


O que que nós temos de fazer pra ter uma educação de qualidade? Porque não é gastar dinheiro, é transformar educação de qualidade pro brasileiro. (…) A gente desperdiça dinheiro público com a máquina pública. Isso não melhora o aprendizado do aluno. A criança não aprende. (Trechos de Felipe D’Ávila)

Luiz Inácio Lula da Silva possui certa aderência à classe 1 da análise CHD (Figura 2), mas muito menor que o candidato do Partido Novo. Os discursos do candidato do PT mobilizam estes temas de forma diferente, geralmente para falar do que foi feito em suas gestões anteriores. Aliás, esta foi sua estratégia: falar dos seus governos anteriores. A estratégia de "jogar parado" frente ao que é racionalmente o pior governo da história do Brasil foi incorporada na campanha petista; parece que para vencer seria suficiente trabalhar com a memória sobre os governos Lula. O problema é que, sendo o passado coisa volátil – volátil o suficiente para que seja rememorado como glorioso, como um tempo de bonança sem igual – também pode ser trabalhado negativamente (o tema da corrupção, por exemplo, como utilizaram em cima de Lula os candidatos Simone Tebet e Jair Bolsonaro e até servir como justificativa e adaptação.


Eu continuo dizendo pra vocês o seguinte, nós vamos trabalhar para voltar a governar esse país, pra fazer a economia crescer, pra investir na educação. As pessoas se esquece que quem criou o piso escolar fui eu. E muitos governadores não queriam, sequer, pagar o piso escolar. As pessoas se esquecem que nós espalhamos universidade por esse país afora. E vou dizer uma coisa pra você, o PROUNI foi a maior revolução educacional que a gente fez nesse país. (Trecho da fala de Lula)

E Ciro Gomes? Sua vinculação com a classe 1 se resume basicamente a utilizar este vocabulário para atacar Lula e Bolsonaro.


Mas assim, entre tantas aberrações que eu já ouvi, que me levaram a certa indignação, eu anteontem fiquei chocado. O senhor disse puro e simplesmente que o Brasil não tem gente com fome e que pessoas não procuram pedir comida porque o Brasil não tem propriamente fome. (Trecho de Ciro Gomes atacando Bolsonaro)
Ainda agora eu vim entrando aqui na Bandeirantes estava lá a turma do PT batendo no carro, atravessando bandeira, eu conheço isso. Isso vai produzir coisas que o Brasil não merece e nós precisamos restaurar a paz, reconciliar o Brasil ao redor de um novo e generoso projeto nacional de desenvolvimento que mude esse modelo econômico. (Trecho de Ciro Gomes atacando Lula)

Os discursos de Ciro, de acordo com a análise, estão mais vinculados à classe 2 da análise CHD (cor roxa), que mobiliza o tema da Educação (classe menos representativa em comparação às demais, com cerca de 14% do corpus classificado). Esta Classe é muito próxima da Classe 1 (ver Figura 2, a proximidade das classes no gráfico indica proximidade semântica), porque apresenta também um tema sensível do Brasil real.


Aparecendo mais vezes ao candidato do PDT do que aos outros durante o debate, Ciro divergiu de D’Ávila sobre este tema e sabe que é necessário maior investimento em educação:


Se nós não mudarmos o modelo de financiamento da educação brasileira, assim como da saúde, assim como de todas as grandes questões, será falsa toda e qualquer promessa ou desconhecimento da realidade em que estamos atolados no Brasil. (Trecho de Ciro Gomes)

Contudo, o resultado da Análise de Similitude das falas de Ciro (Figura 4) revela coocorrências que apontam uma concepção avaliacionista de educação, preocupada com a gestão de resultados, postura liberal que não se contrapõe tanto ao discurso do candidato do Partido Novo. O candidato do PDT sempre elogia a educação do Ceará, Estado em que foi Governador, como uma das melhores do Brasil. As avaliações externas, utilizadas para medir os resultados das escolas brasileiras, são retratos que não refletem a qualidade das escolas. Pelo contrário, são utilizadas como ferramenta principal de gestão de políticas educacionais que visam estudantes cada vez menos críticos e mais assertivos em testes de múltipla escolha e responsabilizam professores pelo fracasso destes estudantes. Não são escolhas que emancipam, mas sim, aprisionam.

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Figura 4 – Análise de similitude das falas de Ciro Gomes. As linhas mais grossas indicam uma maior frequência de coocorrências.


O desastre da educação brasileira é medido pelos indicadores de avaliação. Se nós estabelecermos o PISA, que é o termo de avaliação internacional, o que de fato nos recomenda aprofundar o debate. Deixa eu ver, motivar professor, retreinar o professor pra que ele passe a fazer essa pedagogia emancipadora. Que a garotada possa ir pra escola interessada em dominar as tecnologias digitais e pensar fora da caixinha do decoreba. (Trecho de Ciro Gomes)

Os discursos de Simone Tebet ficaram concentrados na Classe 3 (de cor verde, representando cerca de 29% do corpus classificado, a segunda maior classe). Curiosamente, esta é a Classe mais isolada das demais (ver Figura 2), pois representa trechos do debate que envolvem o tema da corrupção, que por sua vez, tem significados próprios, moralistas e pouco politizados. Aqui também estão incluídos os trechos que envolvem falas de crítica sobre a péssima gestão da pandemia no Brasil, do qual Simone (participante ativa da CPI da pandemia) teve diversas oportunidades durante o debate em se posicionar:


Nós acabamos de sair de uma pandemia, se é que saímos dela, uma pandemia que podia ter sido muito melhor gerida se nós tivéssemos um presidente da república sensível à à dor alheia. Lamentavelmente, no momento que o Brasil mais precisou do Presidente da República ele virou as costas pra dor das famílias enlutadas brasileiras. E negou vacina no braço do povo brasileiro. Eu sei porque eu estava lá na CPI.
Eu estudei os documentos. Atraso de 45 dias na compra de vacina. Quantas famílias perderam prematuramente seus filhos? Quantas mães perderam filhos? Quantos filhos perderam pais? E eu não vi o Presidente da República pegar a moto dele e entrar num hospital pra dar um abraço a uma mãe que perdeu um filho. Eu vi mais do que isso, eu vi um escândalo, escândalo de corrupção na compra de vacinas como se a vida pudesse custar um dólar. Nesse aspecto, Soraya, a pandemia se arrastou porque não teve coordenação do governo federal. Não é porque ficamos em casa. (Trechos de Simone Tebet)

Se o tema das mulheres foi predominante no debate, é interessante notar que não é possível identificar uma representatividade grande na análise CHD (a palavra mulher ou outras palavras associadas ao feminismo não tem destaque na Figura 2). Embora o discurso de Tebet tenha sido muito centrado neste tema (Figura 5), a candidata do MDB não consegue desenvolver uma argumentação que as análises consigam destacar. Como o termo Mulher foi muito utilizado por Tebet para frear os ataques misógenos de Jair Bolsonaro, principalmente durante a pandemia, ele foi classificado como dentro da Classe 3 e também rendeu algumas coocorrências na análise de similitude.


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Figura 5 – Análise de similitude das falas de Simone Tebet. As linhas mais grossas indicam uma maior frequência de coocorrências.


A análise de similitude revela que, para tudo o que Simone abordou, ela fez questão de inserir a palavra mulher no discurso (quase um terço das vezes que a palavra apareceu no debate, Simone que estava dizendo). Portanto, é possível concluir que análise CHD não conseguiu identificar um significado relevante para o termo, pois ele foi utilizado de forma arbitrária pela candidata e pelos outros participantes.

Sabe o que é ser feminista? É defender como eu e Soraya defendemos, a igualdade salarial entre homens e mulheres.
Nós precisamos de uma mulher pra arrumar a casa. Nós precisamos uma mulher pra pacificar o país, pra unir o país, pra dar credibilidade, pra fazer com que esse ódio que hoje divide e que começou lá atrás no governo do PT do nós contra eles definitivamente chega ao fim.
Exemplo que lamentavelmente o presidente não dá quando desrespeita as mulheres. Quando fala das jornalistas, quando agride, ataca e conta mentiras. Como acabou de fazer.
Vou contar com ajuda valorosa da minha vice-presidente da República, Mara Gabrilli, uma mulher tetraplégica há 28 anos, se tornou senadora da república e sabe como fazer. Mara querida Simone e Mara juntas nós vamos reconstruir o Brasil de verdade. (Trechos de Simone Tebet)

Jair Bolsonaro também mobilizou o tema das mulheres (utilizou o termo praticamente o mesmo número de vezes que Simone Tebet), muito porque foi incitado a fazê-lo. Além disso, precisou se defender dos ataques à gestão da pandemia e utilizou o discurso moralista da corrupção, tanto para se defender, quanto para atacar. Por isso, a maior aderência do seus discursos está na Classe 3 da análise CHD (Figura 2). Fora isto, não houve nenhuma tentativa do ocupante da presidência da república de trazer debates que não lhe foram colocados, nem de proferir palavras cuidadosamente escolhidas. Fora a tentativa marginal de trazer uma contraposição entre o governos de esquerda e a família tradicional que as análises apontaram pouca relevância, em termos de semântica, Bolsonaro certamente foi o mais transparente dos candidatos. Digo isso, pois mesmo que Lula tenha trazido diversos temas que realmente interessam uma parcela significativa da população e que representam a classe trabalhadora, o candidato petista possui uma base de sustentação conciliadora, não radical. Suas alianças com setores da direita dificultarão ainda mais o seu governo, já que provavelmente será eleito. No discurso, Lula aponta problemas e contradições, mas não apresenta soluções, evocando um passado que não tem comparação ao presente. Sobre radicalização, vale conferir um texto meu aqui.


Ou seja, corrupção houve. Presidente Lula, o senhor quer voltar o poder pra quê? Para continuar fazendo a mesma coisa na Petrobras?
A senhora foi conivente com a corrupção na CPI. Não achou nada contra mim e escondeu o Carlos Gabas. E escondeu o Carlos Gabas. Que desviou 50 milhões de reais e não foi investigado pela CPI.
Nós demos, demos através de decretos e portarias, o legítimo direito a defesa a todos, em especial às mulheres. É um governo que faz por todos. É um governo que não divide, que não fala grosso pra tentar intimidar quem quer que seja só porque é mulher. (Trechos das falas de Jair Bolsonaro)
A segunda coisa é dizer pra vocês que eu fui procurar um companheiro com a experiência de 16 anos de Governo de São Paulo para me ajudar a governar esse país. Eu sei o que fiz, sei o que vou fazer. (Trecho das falas de Lula)

Por fim, as falas da candidata Soraya Thronicke ficaram mais localizadas dentro da Classe 4 da análise CHD (cor azul, Figura 2). Esta Classe contém os trechos cordiais do debate, descontração (como quando o Lula falou para o Ciro que ainda iria conversar com ele), cumprimentos e termos utilizados para se referir aos candidatos, jornalistas e mediadores de maneira respeitosa. Se a Classe 3 é a do ataque, esta Classe é a da cordialidade. Uma classe com termos próprios de um debate presidencial.


Boa noite a todos, boa noite Juliana, obrigada pela pergunta, mas antes eu gostaria de me apresentar. Quero primeiro cumprimentar os candidatos que vieram. O comparecimento de todos é de extrema importância, é uma obrigação e direito do eleitor conhecer todas as propostas.
Obrigada candidata pela pergunta. É um assunto que também me é caro. Muito muitas poucas pessoas sabem, mas eu fui professora de inglês por muito tempo. Então eu sei o que que é uma sala de sala de aula também.
Boa noite. Primeiro lugar, eu gostaria que você até mesmo repetisse porque eu estou surpresa. Eu acredito que eu não tenha entendido a afirmativa que colocaram na minha boca, mas vamos lá, vamos ouvir novamente. (…) Ah ta. Assustou. Assustei porque você está falando que pra mim que era um, de um caso de estupro e que mulher não tinha razão. Pelo amor de Deus, jamais. (Trechos das falas de Soraya Thronicke)

E porque o nome de Deus está sendo classificado como dentro da Classe 4? Os candidatos utilizam seu Santo Nome em vão, principalmente Soraya e Ciro, nestes momentos de cordialidade, de “pacifismo da fala”:


E a todos os brasileiros eu devo dizer basicamente que essa pergunta parece ser uma escolha que Deus me deu. (Trecho de Ciro Gomes)
Bom, não posso deixar aqui de colocar também que eu já estou vacinada contra a mentira e não virei jacaré até hoje graças a Deus. (Trecho de Soraya Thronicke).

Se as falas de Soraya possuem aderência a uma classe que tem um significado quase que vazio, é porque ela é a candidata com um perfil menos ideológico e com menos repertório. A palavra mais utilizada pela candidata do União Brasil foi o termo Candidato (cordialidade já revelada), seguida do termo Imposto. Diferentemente do uso do termo Mulher por Tebet, sua ideia do imposto único não está muito articulada dentro de suas falas. A análise de similitude se explica por si: nenhum termo é central, as coocorrências são pouco capilarizadas, devido ao discurso truncado e pouco coeso (Figura 6).



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Figura 6 – Análise de similitude das falas de Soraya Thronicke. As linhas mais grossas indicam uma maior frequência de coocorrências.

Haveria muito mais o que dizer e melhores análises a se fazer, mas o intuito era o de dar alguns pitacos. A análise textual é um prato cheio para quem quer esmiuçar discursos, escritos, pensamentos. Utilizei estas mesmas técnicas para estudar documentos curriculares da educação brasileira no meu Mestrado. Tanto lá, como aqui, ficou o ensinamento: as palavras dizem muito mais do que uma simples leitura pode oferecer.


Referências:

[1] https://www.aosfatos.org/noticias/checamos-debate-presidencial-band-uol-folha-cultura/

[2] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/08/tema-das-mulheres-dominou-1o-debate-presidencial-veja-video.shtml

 
 
 

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